sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

NETUNIANA II






Em dia claro, sou correnteza
na imensidão azul desse oceano,
fluxo transparente
navegando-me sobre a cabeça.
Em noite escura, sou profundeza
mergulho abissal
nesse céu de incertezas.
A profundidade,
meu habitat natural,
realidade de um mundo irreal.
Netuniana em essência,
a emoção é-me experiência
nesse abisso de obscuridade.
A palavra é  minha dinastia
e a poesia,
superfície da claridade.





Elizabeth F. de Oliveira


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

NETUNIANA





Aguilhoada pelo cetro
de uma mitologia,
trago, sob a pele,
o estigma do devaneio.
Livre, galopo no campo
dos sonhos em cavalo
alado de pensamentos.
Embora minha trilha
margeie sequentes abismos,
guiada sou pela linha do horizonte,
ávida de  auroras e poentes,
vislumbrando  o brilho
utópico das estrelas.
Bebo da fonte de Netuno,
mais profunda que o
precipício de existir, porque
é ela que me sacia a sede abissal
da emoção e me liberta
nesse universo de imensidão.




Elizabeth F. de Oliveira

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

CANTO





Minha poesia é meu canto
íntimo
inerme
mudo
um alarido de palavras
sem som,
guiando em silêncio
meus significados de ser.
Os símbolos me entoam
em dança sagrada,
dervixes rodopiantes de emoções.
Tudo me é melódico e eufônico
no ventre das palavras.
Nada sou
além de voz que canta
no papel a música inaudível
de mim mesma,
sonoridade oculta
da palavra que sou.





Elizabeth F. de Oliveira
Tela de C. Toffolo

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ÁTIMOS



                                                                   para Jamil Damous



Palavras que deslizam
a saudade que te habita,
poesia inaudita
nas entrelinhas do tempo.
O que foi ou não foi,
mas poderia ter sido;
o que não aconteceu
ou o acontecido.
Tudo ganha espaço
no terreno da memória,
latifúndio da tua história
do que foi ou não vivido,
cercanias de um mundo
habitado ou esquecido.
Entre o quarto, o céu e a sala,
o vento, a parede e o corredor
tua poesia percorre solta
catalogando átimos de amor.





Elizabeth F. de Oliveira
Capa do livro 'O Rei do Vento' de Jamil Damous

Poema  inspirado na leitura desse livro.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A NOITE LÁ FORA







Estou com pena 
de deixar a noite lá fora,
nessa madrugada de setembro sem outubro.
Cerrar a porta e abandoná-la
sem despedida, mas com a assinatura
do vento nos cabelos.
Estou com pena 
de deixar a noite lá fora,
Com a lua cheia tangendo
sozinha o céu,
arrebanhando as estrelas,
como se elas já não tivessem
passado pela porteira do infinito.
Estou com pena
de deixar a noite lá fora,
com esse vento
inventando formas,
desdenhando das sombras
que se alternam à sua vontade.
Estou com pena
de deixar a noite lá fora,
assim, ébria de beleza,
desacompanhada de mim.

Estou com pena de quem deixa a noite lá fora.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida





terça-feira, 17 de setembro de 2013

LABIRINTO DAS CERTEZAS




Eu me perdi 
no labirinto da verdade.
E aprendi que o caminho
da certeza nem sempre conduz
à porta de saída
e que nem toda verdade
é precisa ou exata;
sempre há um atalho
conduzindo a estranhas 
incertezas.
Quem se perde,
não está de todo perdido,
porque perder-se é também 
encontrar-se ou, quem sabe,
reconciliar-se com o caminho.






Elizabeth F. de Oliveira
Foto: Daniel Oliveira


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

LABIRINTO DO TEMPO







Esquecida estou
nesse labirinto do tempo.
Rasgam-se séculos
por esses corredores 
que são o meu périplo.
Deambulo solitária
sem respostas ou salvação;
essa clausura imposta
tem o peso de alguma maldição.
Perco-me na condenação
desses corredores sem fim
mas perdida mesma
estou é dentro de mim
nesse espaço-tempo
que não vigora
onde as noites prevalecem
sobre a aurora,
labirinto dentro de mim.
E quando acordo
desse cárcere onírico
sinto meus pés
nesse espaço físico,
frio e sem saída
do labirinto do tempo
onde me encontro
indefinidamente perdida.




Elizabeth F de Oliveira
Arte de Salvador Dali





sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RETRATO

                                                 



Carregas no peito
um cárcere de mágoas,
aprisionadas de desacertos
e desencantos.
O tempo  te arde 

na pele sulcada
pelas linhas do desalento.
Teus olhos espelham
uma esperança aguilhoada
de incertezas,

sangrando-lhes os reflexos
de um futuro.
Agora vives encolhido
nas rusgas do tempo,
cuja herança maior é
a memória dos ocasos,
a certeza dos outonos
e o olor de muitas saudades
contemplado nas vicissitudes

do afeto.
Celebrar crepúsculos é
teu mais ousado sonho,
porquanto carregas a solidão

fossilizada nos ossos.





Elizabeth F. de Oliveira

Imagem: Autoretrato de Vincent Van Gogh

segunda-feira, 29 de julho de 2013

CAIS








Minha mão
ancora na tua
como um cais
inaugurado no horizonte
da memória.
Agora tenho um norte
para aportar esse azul
que em meus olhos se instaura.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida



TEATRO MÁGICO





Encontrei a poesia,
de forma inesperada,
é que ela estava disfarçada
de música, teatro e magia.
Com o rosto pintado de emoção,
as palavras ganharam movimento,
gesto, mímica e entonação,
bailando livres aos acordes do vento
como notas de alguma canção.
E quem vai assistir,
não tem a menor ideia,
de que, mesmo sendo plateia,
também vai conduzir,
de forma bem marcada,
as batidas do seu coração;
poesia ajustada
em uníssona percussão,
entoando uma improvisada melodia
pra esse teatro de emoção,
tão mágico e de pura fantasia.





Elizabeth F. de Oliveira

Foto O Teatro Mágico

sexta-feira, 5 de julho de 2013

SINASTRIA








Somos compatíveis
na sinastria da solidão,
carregamos no peito
o mesmo crepúsculo
circunscrito de silêncio e desilusão.
E, na contradança do destino,
as sincronicidades se transformam
em desatino, fazendo do desencanto
nosso melhor ponto de convergência,
de eloquência da harmonia;
para que, quem sabe, juntos
e com paciência,
possamos, do peito,
desocultar a alvorada
e fazer dessa vida inabitada
um encontro inesperado
de poesia.







Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ENSEADA





Fulgura em teus olhos
uma luz sufocada,
ânsia prévia de ser mar,
antes de ser enseada;
testemunha ocular
dessa saudade represada
na solidão do teu olhar.





Elizabeth F. de Oliveira
Pintura de Monet






terça-feira, 28 de maio de 2013

NEM AZUIS, NEM VERDES


                                                                                                 para Karoline



Os teus olhos se situam
nem tanto ao norte, nem tanto ao sul;
em alguma longitude inexistente,
que navega um brilho transparente
entre o verde e o azul.
De uma cor quase inadmissível
não fossem os teus olhos
refletirem o impossível.







Elizabeth F. de Oliveira
Foto autoria desconhecida



sexta-feira, 10 de maio de 2013

TUAS PALAVRAS






Tuas palavras tingem de poesia 
os meus olhos
espelhados de arredios barcos
na solidão dos oceanos.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto: Álvaro Manuel Mendes Cordeiro

sexta-feira, 26 de abril de 2013

BARDOS








Somos remanescentes
da linhagem do afeto,
bardos, de um outrora
sem tempo, com versos
manuscritos de silêncio.
Nossa bagagem nesta vida
é séquito de mágoas no peito
e tristeza imerecida nos olhos,
ignomínia das lembranças
acumuladas no estio da existência.
Nossa trajetória é impiedosamente
sulcada pela inclemência da solidão,
ponto de interseção de nossos
inauditos destinos.





Elizabeth F. de Oliveira

quarta-feira, 10 de abril de 2013

DÉDALO








Percorro a singular
geografia do teu universo,
imerso de palavras, acordes
e imagens que tão
bem definem a genealogia
do teu desencanto.
Dédalo de emoções,
onde a tristeza peregrina
paralela à solidão;
ínvio caminho,
margeado pela veemente 
eloquência do silêncio.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida

sexta-feira, 22 de março de 2013






                                                                 para Elizabeth F. de Oliveira


As tuas ancas são uma pequena embarcação
pronta a seguir viagem.
Não esperes que o vento favorável
manobre o teu veleiro.
As vagas atravessam-te os ossos.
E, noite dentro, a estrela polar
brilha na proa azul dos teus olhos.




Graça Pires 
www.ortografiadoolhar.blogspot.com
Pintura de Salvador Dali




Este poema foi um presente de aniversário da minha mais do que querida amiga Graça Pires, renomada poeta portuguesa, cujos versos me enchem de perplexidade. 
Graça, minha querida, o meu apreço, o meu afeto e a minha admiração! 
Agradeço esse presente inédito e eterno. 



sexta-feira, 8 de março de 2013

SOL E LUA









Somos sol e lua
perdidos de solidão
num céu inseguro
cingido de ocasos.
Somos lua e sol
suspensos na imensidão
em lados opostos, no escuro
dessa análoga saudade.
Somos noite e dia
no reverso da mesma agonia,
esperando o céu se firmar
ansiando um eclipse de poesia
para sermos enfim um par.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

RESPLANDECÊNCIA









O que resplandece em ti
são os teus olhos,
lume secreto de noites tardias,
negrume perpétuo das madrugadas
a concorrer com o brilho da alvorada
recém-colhida na plenitude do teu sorriso.






Elizabeth F. de Oliveira
Foto: Dev Carvin 'Aurora Borealis'





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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

VIVÊNCIAS








As vivências migram
para o passado
em forma de lembranças;
como quem tem asas,
asas que voam em direção oposta,
deixando, no tempo,
um rastro indelével de saudade.





Elizabeth F. de Oliveira

Foto: autoria desconhecida





sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ESTRELAS







Quando teus olhos
ficam marejados,
vejo luzes submersas.
E constato o quanto
a natureza é sábia:
estrelas podem cair
no oceano,
sem sequer terem
morado no céu.






Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida