Lamento que da tua boca sobressaiam silêncios; que nos teus olhos desenhem-se miragens. Só me resta extrair dos teus dedos o contorno preciso das linhas de afeto que sublinham vivências desenhadas pela cumplicidade dos anseios.
Compreendo a melancolia Do nascente que sepulta, A cada velho dia, Os últimos raios de luz Num poente instante. As manhãs renascem Para morrerem lentamente No ocaso de todo dia. Elas ensaiam, Bem diante dos nossos olhos, O momento derradeiro. É quando tudo torna-se finito, Efêmero, Sem a mínima chance de absolvição.
Minhas mãos me doem O caminho, Calejam-me a caneta De dedos de insistência. A direção que me aponta O papel é trajeto único, Caminho sem volta, Volta sem caminho, Percurso sem curso, Caminho que se desfaz, Descaminho. Quedo do cansaço, Visto que sobre mim, Ele caminha E com palavras pisa-me O itinerário de pensamentos; Sem remetente, Sem destinatário, Mas com um guia de persistências.
Elizabeth F de Oliveira Foto Descaminho/Márcio Negrão