quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Novo Ano


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial.Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente tudo vai ser diferente!



Carlos Drummond de Andrade

Ano Novo


O Ano Novo ainda não tem pecado:
É tão criança...
Vamos embalá-lo...
Vamos todos cantar juntos
em seu berço de mãos dadas,
A canção da eterna esperança.



Mário Quintana

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Pensando


Se tivesse pensado melhor a vida,
Certamente a tornaria mais divertida;
Não pensaria tanto
Pra tomar qualquer decisão,
Não deixaria a razão
Se instalar por todo o canto.
Muito mais autonomia,
Eu daria ao coração,
Que faria da poesia,
O seu manual de instrução.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto Lisboeta

Frutífero


E se testarmos as metades das laranjas?
Deixe a sua acoplada com a minha.
Se não ficar direito, a gente ajeita.
A de baixo parece estar perfeita,
a de cima, se conserta.
Eu mexo meu pedaço, o seu aperta
até que as partes fiquem ajustadas.
Certamente iremos descobrir
a melhor maneira de extrair
o sumo para doce laranjada.




Flora Figueiredo
Foto Michelle Utlik

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Memória


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.





Carlos Drummond de Andrade
Foto Michelle Utlik

Aponta


Na ponta do lápis
me vejo
melhor que em espelho.





Fábio Rocha
Foto Michele Utlik

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Perfil


De passagem,
como a véspera imprecisa
do poema,
principia em mim
a planície agreste
da solidão dos outros.
E a não ser
o silêncio poente
dos meus olhos,
tudo o resto me diz
que sou um pássaro
a voar, inconsequentemente,
no sentido das palavras.




Graça Pires
www.ortografiadoolhar.blogspot.com

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Receita


O poema saiu minguado.
Não era o que eu queria;
O verso estava salgado,
Embora doce estivesse a poesia.
O tempero andou desandando,
Nessa receita de inspiração,
O sentimento acabou solando,
Por falta de motivação.



Elizabeth F. de Oliveira

A Arte de Ler


O leitor que mais admiro
é aquele que não chegou até
a presente linha.
Neste momento já interrompeu
a leitura e está continuando
a vigem por conta própria.



Mário Quintana

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Olhai os lírios do campo






Estive pensando muito na fúria cega com o que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esqueceram o que têm mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não mais almas humanas para morar neles? É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.



Érico Veríssimo
Foto Joilton Obom

Fernando Pessoa


O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.



Fernando Pessoa, 5-9-1933

Leminski



Disfarça, tem gente olhando.
uns olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando
olhando ou sendo olhado
Outros olham pra baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.




Paulo Leminski

Aula de Português



Dizer sem palavras,
amar sem vírgulas,
sofrer sem sintaxe,
viver sem parêntese,
sublinhando o gesto,
acentuando o Tempo,
conjugando o resto...




Bruno Kampel

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Outono




Meio-tom.
Bom termo entre os excessos,
equilibrado confesso,
pondero entre extremos.
Outono,
coleciono trechos de poesia
tirado de cores e de brisas,
do peito da tarde que se descamisa
em seu desfecho.
Da maturidade, deixo a fruta
que se queda pronta sobre a terra
quando minha temporada já se encerra
e cede vez à estação substituta.




Flora Figueiredo
em 'Estações'
Foto Pedro Casquilho

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Proteção



Hoje teu olhar
Está por demais expressivo,
E meu coração,
Que anda tão receptivo,
Talvez não resista
A tamanho magnetismo.
Por isso uso lente de contato,
Que aciona um mecanismo
De reflexo imediato;
Instrumento eficaz de proteção,
Capaz de aniquilar
Qualquer arma de sedução.


Elizabeth F. de Oliveira

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Ipê II


Sempre frágil e breve, o Ipê se comove
porque prevê curta estada no cenário.
Levado pela emoção da despedida,
chora amarelos um pouco antes da partida.
Só volta agora ao findar a rotação do calendário.


Flora Figueiredo
em Estações

Buganvílias



Elas sobem paredes,
rondam portões,
derrubam cores aos borbotões.
Litigantes,
empurra-empurram-se Buganvílias
em vicejante briga de família.


Flora Figueiredo
em Estações

domingo, 2 de dezembro de 2007

Florada






A emoção é uma estrada
Que não tem sul, nem norte;
Que conduz ao desconhecido,
Ao inimaginável,
Mas que, com um pouco de sorte,
Te leva a um campo florido,
A um lugar impensável.
Se, por vezes, o beco ou a rua
É um lugar sem saída,
Nem sempre a culpa é sua,
Se essa estrada é comprida.
Mas se for bem conduzida,
A emoção te mostra lugares
Nunca antes percorridos,
Te faz viajar pelos ares,
Sobrevoa céus desconhecidos.
Mas se um amor novo aflora,
Surge uma nova estação;
A primavera do sentimento
Chega bem nessa hora,
Da florada da emoção.



Elizabeth F. de Oliveira
Foto Isa Almeida

Amor

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Beija-flor






Rasgar a fantasia
E ser enfim o carnaval
Cantar pra ver o sol de todo dia

Ser o canto da floresta, passarada em festa
Ser maestro de uma orquestra de sapos
Pra acordar a lua

Ser assim, beija-flor
Azulzim, beijador
Bonitinho e sedutor
Pra ganhar o Teu amor
Pra ganhar o Teu amor
Divina flor

Plantar na melodia
Uma semente de emoção
Ser lavrador no chão dessa alegria

Colher estrelas no universo
Do teu coração
Comer do pão da tua poesia

Ser assim, beija-flor
Azulzim, beijador
Bonitinho e sedutor
Pra ganhar o Teu amor
Pra ganhar o Teu amor
Divina flor


Carlinhos Veloz
Música do CD Vibratons
Foto Alan Cardoso

Escultura





Crio imagens
Com as palavras,
E modelo
Com a ilusão;
Linha curva,
Linha reta,
Escultura
Feita á mão.
Ferramenta
Do poeta
É a imaginação.


Elizabeth F. de Oliveira
Foto Pedro Rino Vieira

Não Pise na Grama


Placa inútil e amarela:
“Não pise na grama.”

Amarela
pela ausência de girassóis.

Inútil
porque não tenho os pés no chão.


Fábio Rocha

O TAO



por detrás de toda janela aberta
há um convite
para mais de duas notas musicais
que somente os olhos das Crianças
dos anciãos e alma dos pássaros
conseguem decifrar...

gato: entre o indiferença exacerbada
Olhe como se fosse um cão

cão: entre a amabilidade excessiva
Olhe como se fosse um gato

gato: entre o individualismo egoístico
Olhe como se fosse um cão

cão: entre a fidelidade extremamente melosa
Olhe como se fosse um gato

gato: entre insociabilidade solitária
Olhe como se fosse um cão

O TAO
'tal dono, tal cão'
'tal gato, tal dono'

por detrás de toda janela aberta
há um convite
para mais de duas notas musicais
que somente os olhos das crianças
dos anciãos e a alma das aves
conseguem decifrar...

Rosangela_Aliberti

www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Borbulhante


Guardei meu poema dentro de uma bolha de sabão.
Como não ficar seduzida
pela circunferência lisa e transparente,
onde o arco-íris passeia docemente
e morre de amores pela espuma colorida?

Acomodado na nova moradia,
o poema suspirou e adormeceu.
Quando acordou, já não mais me pertencia.

A bolha de sabão se deslocara
e o poema apaixonado que eu criara
descobriu de repente que era teu.


Flora Figueiredo
em Chão de Vento
Foto Lisboeta

domingo, 25 de novembro de 2007

Apresentação


Olá, meus caros amigos!
Sejam mais do que bem-vindos ao meu blog. Estou criando um blog não somente para mostrar o meu trabalho, mas para abrir espaço para outros poetas, renomados ou não. O meu intuito é criar um ambiente alternativo, onde se possa desacelerar o ritmo do dia-a-dia com pequenas pinceladas de poesia. Um momento para se fazer uma pequena pausa para um café, lendo sempre algo que vá, de certa forma, aquecer o seu coração.
Aceito sugestões, poemas e textos para postagem e tudo o que possa acrescentar qualidade, desde que esteja de acordo com o perfil desse blog.
No mais, meu carinho e agradecimento pela visita.
Elizabeth F. de Oliveira

Gestação



Para Sofia


Todo poeta sente
Que cada composição
É uma espécie de gestação,
Mas com um parto diferente.
Que para nascer,
Não levam nove meses,
E, em quase todas as vezes,
A dor é pra valer.
Mas o poema bebê
Logo que nasce,
Mostra então a sua face;
E pra orgulho do genitor;
O rebento,
Que nasceu nesse exato momento,
É um lindo poema de amor.



Elizabeth F. de Oliveira