quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NATAL







Leio o teu nome
na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
no milagre dobrado
de ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
meninos pobres em currais de gado,
crianças que são ânsias alargadas
de horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
a divindade é o menos.





Miguel Torga
Foto: autoria desconhecida

terça-feira, 15 de novembro de 2011

SOMBRA






A luz se apagou em meus olhos.
O que neles reside
é uma opaca lembrança
entornada de mágoas.
Já não há nascente,
o que me resta é o crepúsculo
de uma desavisada sombra de saudade.





Elizabeth F. de Oliveira

terça-feira, 27 de setembro de 2011

CLARIVIDÊNCIA





O tempo enevoou meus olhos
com um halo de encantatórias promessas.
Embriagada pela miragem do teu regresso,
fui abruptamente surpreendida
pela ofuscante nitidez da verdade,
intuição involuntária
da clarividência dos meus enganos.





Elizabeth F de Oliveira
Foto 'Clarividência' de Ana Martins

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

FIRMAMENTO





A inerme ingenuidade das manhãs
esconde o rito latente dos cotidianos;
ameniza,
com um tênue traço de candura,
a pressa frenética com que se
deflagra a vida.
Anônimos, permaneceremos,
com uma velada promessa
nos olhos de um azul eterno,
sob um céu nítido de esperanças.





Elizabeth F de Oliveira
Foto sem autoria

terça-feira, 31 de maio de 2011

EXTRADIÇÃO





Entre mim e ti
há um caminho
pontilhado de reticências,
há um desassossego
nos parênteses da espera.
Não sei se pontuo de interrogação
o muro de equívocos
que nos separa
ou se aguardo pacientemente,
nas entrelinhas da saudade,
a etimologia do teu regresso;
pois é aqui nesse exílio,
que, por ti, sempre realizo
a extradição poética
das minhas palavras.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto Daniel Pedrogam

terça-feira, 17 de maio de 2011

RETOQUE


Retoquei a linha do horizonte
no afã de me livrar
do crepúsculo da solidão,
penumbra prematura da minha sede.
Mas meus olhos divagaram
perplexos de saudade,
confinando-se voluntariamente
no último instante do poente da memória,
à espera de um milagre
na rutilância secreta dos teus olhos.




Elizabeth F de Oliveira
Foto Álvaro Manuel Mendes Cordeiro

segunda-feira, 11 de abril de 2011

SEM NOME





Sobrevivi ao naufrágio
de uma saudade avassaladora
de sonhos imperfeitos.
Vagas sem rumo de mim,
ondas revoltas
sobre o meu barco sem mar,
e uma bússola de incertezas
orientando o norte do meu peito.
Sobrevivi, resgatada
por uma das ilhas desertas
da minha solidão sem nome.









Elizabeth F de Oliveira
Foto Teutoaero

segunda-feira, 28 de março de 2011

ARTE





Tu inauguraste
a galeria do meu sentimento
com a tela mais impressionista
da emoção.
Emoldurada de sonhos,
é a obra-prima dos meus anseios,
incondicionalmente presa
à parede surreal da minha
excessiva espera.






Elizabeth F de Oliveira
Quadro de Monet

terça-feira, 15 de março de 2011

GRATIA




para Graça Pires




Tu és gratia plena
em minha poesia.
Fez-se luz
no horizonte das minhas palavras,
na semântica
da oração dos meus versos.
Bendito é o fruto
do teu sentimento,
que verte de águas
os caminhos da minha sede.
Amen.








Elizabeth F de Oliveira
Foto Eduardo Breviglieri

quarta-feira, 2 de março de 2011

MEIA-LUZ







Sempre vivi
Intercalada de saudades,
mergulhada, semanticamente,
na latência dos sonhos.
É como se a aurora
nunca raiasse em meus dias,
coexistindo em mim
um crepúsculo permanente de vida.
A timidez da luz
sempre foi constante
no céu do meu domínio,
instaurando perenemente
uma meia-claridade de sonhos
e velados anseios.





Elizabeth F de Oliveira
Foto Bluu

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

SILÊNCIOS





À sombra de todas as vozes,
escondem-se silêncios opacos, difusos,
que se mesclam ao clamor dos sons.
É preciso desvendar-lhes o contorno impreciso
para pressenti-los nas entrelinhas sonoras
dos seus oscilantes movimentos.





Elizabeth F de Oliveira
Foto Manuel Madeira

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

UM INSTANTE





Quando o cansaço cerra
os meus olhos com a lâmina
pesada do cotidiano,
habito, instantaneamente,
o universo paralelo do meu peito.
Em um lampejo eterno de segundo,
reviso lágrimas e sorrisos;
dias ensolarados de êxtase
e tempestades de tristezas.
Revejo sonhos, propositalmente
esquecidos na frustração do tempo.
Reacendo lembranças boas,
Mantidas, bem guardadas,
para casos de sobrevivência.
Reanimo os amores que carrego
na asfixia do meu peito.






Elizabeth F de Oliveira
Foto Marta Ferreira

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MUDANÇAS








Não é possível reter a voz das intempéries
quando ela chega ao vértice da vigência da vida.
Ela sibila bem trajada de metáforas,
adornada de analogias, para disfarçar
os olhos desavisados.
Mas com o som que ecoa implorante de mudanças,
pode-se pressentir o chamamento retumbante da vida.
Mudanças assinalam a próxima tempestade,
reiterando a urgência dos sonhos.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto Street Dog

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

VOO






O brilho dos teus olhos
prescindem palavras;
são eles mesmos a grafia
mais perpétua do sentimento,
sobressaltando inadvertidamente
os meus, num voo invisível
e arrebatador de desejos consentidos.






Elizabeth F de Oliveira
Foto: Fátima Joaquim