quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

NATAL





Nem pareces o mesmo,
Deus menino
Exposto
Num presépio de gesso!
E nunca foi tão santa no teu rosto
Esta paz que me dás e não mereço.

É fingida também a neve
Que te gela a nudez.
Mas gosto dela assim,
A ser tão branca em mim
Pela primeira vez.





Miguel Torga
Foto: autoria desconhecida




Desejo a todos um Natal muito feliz.
Um 2013 de muita poesia!


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

RUA








Toda rua tem memória,
tem saudade;
dos transeuntes amenos
que pontuam seus passos
de incógnito paradeiro;
do peso da solidão
sob a sola dos sapatos
dos que se perdem
em tão curto trajeto;
da estreanheza do lugar
dos que se encontram
perdidos na intimidade
de seus sonhos.
Toda rua tem memória,
tem saudade;
de um tempo em que seu nome
era só promessa escrita
em algum papel
quando um bosque cobria de verde
esse asfalto,
que segrega casas lado a lado.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida

terça-feira, 20 de novembro de 2012

CLAUSURA


 



 

Condenada  fui
á clausura de incontáveis ausências,
ladeada por uma solidão de distâncias.
Reclusa e nomeada
de premonitório isolamento,
abstraio-me de olhares incertos,
entoando o chamamento
silente dos reflexos
retidos na memória de algum tempo.
Circunscrita de labirintos
excessivos de saudade,
recobro,
na eufonia de cada instante,
o murmúrio inaudível de olhares
perdidos na inevitabilidade do tempo.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida

 

 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

LUZ





 

                                                                                        para Luis Henrique


Acalentado por
um sonho antigo,
nasceste primeiro
em pensamento,
embalando de  afeto
o colo do destino
de uma mãe-menina.
A vida então te deu à luz,
para perpetuar a esperança
nos olhos de cada amanhã,
renascendo eternamente
nas retinas dos teus antepassados.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto: autoria desconhecida

 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ALVORADA







Quando tuas mãos
tocarem então as minhas,
voluntariamente presas
às algemas do desejo,
instaurar-se-á o silêncio
no equilíbrio desse instante,
extinguindo reincidentes saudades.
Não importa o quão estejam
as mãos sulcadas pelo tempo,
o coração sempre faz  a idade
parecer menina.
E nesse dia inaugural da realização
dos meus sonhos,
será alvorada no horizonte
do meu peito,
com a vida finalmente amanhecendo.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto Francini Saldanha

terça-feira, 11 de setembro de 2012

SORTILÉGIO




 

Não tenho o dom
de desvendar reflexos,
mas sei que meu olhar
foi concebido de promessas
do teu,
reverberando um aquiescente
silêncio de esperas.
O luzidio reflexo dos nossos olhos,
cifrados de poesia e desejo,
criou entre nós um sortilégio-encanto,
tornando-nos incapazes
de quebrar a superstição sagrada
desse silêncio.
 
 
 
 
 
Elizabeth F. de Oliveira

 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

CAMINHO






Peregrino, incansavelmente,
um caminho tingido por uma saudade,
na rota ao sul da solidão mais errante.
Um caminho circunscrito
por solitários campos,
arados indelevelmente
pela enigmática perfeição do silêncio.





Elizabeth F. de Oliveira

terça-feira, 1 de maio de 2012

O TEATRO MÁGICO


                                                                                 para Greice

Música e poesia
deram-se as mãos,
num gesto cúmplice de afeto.
E, de autenticidade,
pintaram-se os rostos,
para que, somente pelos olhos e pela boca,
fulgurasse a magia de um teatro
impregnado de sons e palavras,
ideias e ideais,
partilhando um pão carinhosamente
levedado por acordes e versos;
flagrante fascínio
de uma plateia cativa de sonhos.




Elizabeth F. de Oliveira
Foto: informe a autoria


O Teatro Mágico http://oteatromagico.mus.br/



quinta-feira, 12 de abril de 2012

UMA VARA DE MEDIR O SOL




Envelhecemos com uma vara
de medir o sol na linha do olhar.
Não entendemos os sinais inscritos
nas margens do abismo.
Nem os bosques onde se abrigam
as sombras e a chuva.
Nem a misteriosa relação dos astros
no lado mais silencioso dos céus.
Um surdo alvoroço ecoa, fúnebre, na paisagem
quando, para além das montanhas, o piar dos pássaros
é tão nítido como o sopro do medo que transtorna
a leve inclinação das planícies.


Graça Pires
Uma Vara de Medir o Sol




É com grande prazer que recomendo o livro UMA VARA DE MEDIR O SOL, pela Editora Itermeios, da consagrada poeta portuguesa Graça Pires. Como é seu primeiro lançamento no Brasil, é uma oportunidade única de conhecer um pouco do trabalho dessa grande poeta. E tenho certeza de que, quem fizer a aquisição, terá em suas mãos não somente um livro de poesia, mas um rosário inteiro de emoções desfiadas sob uma luz intensa de metáforas capazes de nos deixar perplexos, tamanha a intimidade que a autora com elas mantém.
Ao clicar no título dessa postagem, você será redirecionado ao site da editora para a adquisição do livro.
Boa leitura!





UMA VARA DE MEDIR O SOL de Graça Pires


O imaginário poético de” Uma vara de medir o sol” elabora-se a partir de silêncios e memórias.
Aqui se procura, no pleno dizer dos sentidos, a geografia das coisas amadas e sofridas.
Aqui se revela a inquietude de quem vê com perplexidade e assombro o nosso mundo, quando reparamos nele com o olhar de uma descoberta mais lúcida.
Aqui se teme que a persistente proximidade do abismo aumente o nosso desamparo e os nossos medos, habitantes que somos do mesmo espaço onde que se acoitam pressentimentos e angústias primordiais.
Aqui se tenta ficar mais perto de um território filtrado pela luz de pretéritos crepúsculos e de límpidas manhãs futuras.



Editora Intermeios

segunda-feira, 5 de março de 2012

MÍTICO





Percorro as palavras
num ritual antigo,
ancestral das minhas emoções,
para nomear o teu lendário regresso.
Porque são as palavras
o invólucro perfeito do desejo,
a redoma mantenedora
de todos os significados.
E neste universo de infinitas
etimologias, preservo intacta
a semântica da tua imagem,
já mítica,
no esboço da minha memória.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto Ricardo Almeida

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CUMPLICIDADE








Quando meus olhos
se amalgamam aos teus,
num gesto uníssono de cumplicidade,
teu rosto desmorona, vertiginosamente,
na emoção de um sorriso,
tornando audível
o âmago de um silêncio
somente habitado na euforia do desejo,
comum à reciprocidade inata dos amantes.





Elizabeth F. de Oliveira
Foto Angela Silva

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

LABIRINTOS






Perpetuo, nos olhos,
a solidão de todos os labirintos.
Porque a solidão por si só
não basta,
é preciso também estar condenada
a um caminho sem volta,
isento de possíveis regressos;
um caminho circunscrito
pela eternidade de um agora que
jamais será pretérito,
jamais será memória.



Elizabeth F. de Oliveira
Foto: Mychelle de Andrade Pavão