sábado, 27 de dezembro de 2008
Nascente
Não fosse a severidade das montanhas,
Que me aponta
A sinuosidade do caminho,
Ter-me-ia chegado à nascente
Apaziguadora de todas as sedes.
A intermitência do desejo
Salva-me de uma secura
Mortalmente avassaladora.
Ainda não desisti de escalar
Os aclives da hesitação,
Para matar a minha sede
Fomentadora de todas as minhas
Silentes angústias.
Elizabeth F de Oliveira
Foto António O Matos
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Antes que chegasses...
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Cumplicidade
sábado, 15 de novembro de 2008
Manhãs
Compreendo a melancolia
Do nascente que sepulta,
A cada velho dia,
Os últimos raios de luz
Num poente instante.
As manhãs renascem
Para morrerem lentamente
No ocaso de todo dia.
Elas ensaiam,
Bem diante dos nossos olhos,
O momento derradeiro.
É quando tudo torna-se finito,
Efêmero,
Sem a mínima chance de absolvição.
Elizabeth F de Oliveira
Foto Raphael o pensativo
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Descaminho
Minhas mãos me doem
O caminho,
Calejam-me a caneta
De dedos de insistência.
A direção que me aponta
O papel é trajeto único,
Caminho sem volta,
Volta sem caminho,
Percurso sem curso,
Caminho que se desfaz,
Descaminho.
Quedo do cansaço,
Visto que sobre mim,
Ele caminha
E com palavras pisa-me
O itinerário de pensamentos;
Sem remetente,
Sem destinatário,
Mas com um guia de persistências.
Elizabeth F de Oliveira
Foto Descaminho/Márcio Negrão
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Chegada
A certeza que carrego,
Marcada a fogo,
Dentro de mim,
Ampara-me a ansiedade da espera.
Não fossem os teus olhos,
Que me preconizam promessas,
Ter-me-ia perdido
No redemoinho de incertezas.
O meu caminho de espera,
Eu mesma traço,
Reinventando sonhos
Até a tua chegada.
Elizabeth F de Oliveira
Foto: Pedro Moreira
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Recrutamento
Recrutei os teus olhos
para que ficassem de prontidão
da minha observância.
São eles que iluminam-me
o caminho de vivências,
preteridas na insuficiência do tempo.
São eles que focam a minha busca,
mobilizando-me os anseios
no caminho da realização.
São eles, na verdade, os teus olhos,
que me recrutam,
para travar de saudade
a batalha de se me refletir.
Elizabeth F de Oliveira
Foto: autoria desconhecida
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Cavaleiro Andante
À luz da penumbra
silenciosa da noite,
tento repousar os anseios
que me trafegam
o sangue de ausências.
Nesse percurso gravado
por solitárias pegadas,
ouço passos
uníssonos aos meus.
Eis que surge
um cavaleiro andante,
que com sua pena
reescreve-me as páginas
já viradas de solidão,
contornando de palavras
e preenchendo com metáforas
os espaços dos devaneios
habitados pelo branco.
Nesse instante, sua mão
entrelaça de vontade a minha.
Elizabeth F de Oliveira
Foto João Vasco
domingo, 21 de setembro de 2008
Mãos
Ainda me resta
Um pouco de poesia
Nas mãos tatuadas de desejo.
A caneta que resvala
Por entre os dedos
Não sacia a ânsia
Do toque das linhas do teu rosto
Ou do contorno das tuas mãos.
A necessidade que me consome
As mãos cria em mim
Um vazio eterno de solidão.
A poesia que ainda me resta
Inflama-me as palmas,
Ansiando-me resgatar da impossibilidade
Do preenchimento do desejo.
Elizabeth F de Oliveira
Foto Miguel P. Dias
sábado, 13 de setembro de 2008
Deserto
Peregrino no deserto da saudade
Em busca de um oásis
Que me flagre os sentidos,
Que me resgate do padecimento
Da espera.
Habito a aridez do sentimento,
À procura de uma miragem
Que me mate a sede dos olhos
E da boca.
Esse deserto ilusório e real
É o meu saara de sal
Encoberto por areias de saudade.
Sou peregrina da emoção,
Beduína da espera do oásis
Dos teus olhos.
Elizabeth F de Oliveira
Foto : Carlos e Maria
sábado, 6 de setembro de 2008
Nudez
O fascínio dos teus olhos
Retesa-me as pálpebras,
congeladas na excitação
do sentimento.
Dispo-me o olhar ,
para que a nudez embriague
de delírio
o instante em que se tocam
as retinas, preenchendo
a necessidade mútua
do toque de afeto das mãos;
enlevo primeiro da reciprocidade
do desejo velado
na penumbra das pupilas.
Elizabeth F de Oliveira
Foto: Nuri
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
A chuva...
A chuva é a única chama
que caminha contra o vento.
Refaço seu lastro
com a insônia dos sapatos.
Enlouqueço de ternura,
indeciso entre o furor e o fulgor.
Desperto amarrado em alguma estrela,
servindo de referência
para o alinhamento das esferas.
Fabrício Carpinejar
Em 'Biografia de uma Árvore'.
Foto Mario Ferreira
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
TEU SILÊNCIO
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Meus Olhos
Meus olhos peregrinam
A lembrança da tua presença.
Reclusos dos teus olhos,
Eles tateiam solidão
Na escuridão da saudade,
Sem saber onde colocar os passos.
Mal acostumados com a luz das tuas retinas,
Meus olhos se perdem
Em um lugar onde não se faz caminho,
Sem a remota possibilidade de reencontro.
Elizabeth F de Oliveira
Foto Zélia Paulo Silva
domingo, 10 de agosto de 2008
NOITE
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Amanhecendo
sábado, 19 de julho de 2008
Saudade
Somente tuas mãos
são capazes de atenuar
a dor que me excede
por entre os dedos.
Somente o teu abraço
pode devolver-me
o equilíbrio absente,
esquecido no caminho
extenuado do sentimento.
Eu te preciso-me
nos minutos da vida;
visto que eu-metade,
sozinha,
não me faço inteira,
só me faço saudade.
Elizabeth F. de Oliveira
Foto Antonio Maia
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Una
Em águas escuras de saudade,
navego una,
por entre a paisagem
semântica do meu sentimento.
Deslizo sobre uma emoção espelhada
de verdades veladas.
O barco que me conduz
me naufraga e me resgata
na sendas incendiadas
pelo verde que se dilata
em minha retina.
Una, eu e o rio, solitários e perdidos
em algum braço esquecido
de navegação.
Una, eu me reflito, nessa águas
que me conduzem ao coração.
Elizabeth F. de Oliveira
Foto: Cássia C. Lopes
Rio Una em Morros- MA
quinta-feira, 3 de julho de 2008
VIOLÃO
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Longa Espera
Noite aqui
No calor do sol
O lugar mais distante dessa terra
Quem virá
Dar a luz à luz
Na canção que atravessa o mar de estrelas
E vem se aninhar
Onde a dor jamais penetra?
Onde estás, no silêncio das fogueiras?
Noite em mim
Longe de você
Onde o sol se perdeu da primavera
Quem virá
Florescer a flor
Um amor que atravessa a longa espera
E vem se revelar
O que a dor jamais revela?
Vem me abraçar
Onde a dor jamais penetrará
Pois o amor é labirinto de caminhos
Que se encontram...
Música de Flávio Venturini e Juca Filho
CD Beija-flor
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Sedução
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Jogo de Sedução
Seminua,
A caneta se insinua
Transparente
Em um aparente
Jogo de sedução.
Promete plena satisfação
E momentos intermináveis
De prazer.
Como sempre obediente,
Sinto que vou aquiescer
E me render totalmente;
Para que entre os lençóis da cama,
Chegue então ao nirvana
Por ter-me de todo sucumbido.
E ao raiar do dia,
Não terei me arrependido
Por entregar-me à poesia
Nesse amor tão desmedido.
Elizabeth F. de Oliveira
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Todos...
Todos me falam de ti
com palavras ambíguas.
Fui, eu sei, uma suspeita
de luz em teu olhar.
Virados a levante,
os meus cabelos
eram labaredas em teus dedos.
Na hora do combate
me nomeavas,
como se rezasses.
Pinto-a na minha imaginação
como a desejo, tanto na beleza
como na nobreza, disseste.
E vejo a minha expressão
na cor dos teus olhos.
Tão cúmplice, eu,
de tamanho assombro.
Graça Pires
Em 'Uma extensa mancha de sonhos'
sexta-feira, 25 de abril de 2008
O Violino
Para Cássia
O violino
É meu instrumento predileto,
É por ele que dissemino
Todo o meu afeto;
É com ele que afino
As notas da minha existência
E já escrevo com veemência
Na partitura da vida.
Não importa se a clave
É de Sol ou de Fa,
Sempre vai ter lugar
Para o que tiver bom som.
Quando estiver incorreto,
Eu corrijo o tom
Dos bemóis e sustenidos da vida,
Que um dia foi bem mais dolorida
Por não estar no compasso correto.
Ao tocar a primeira canção,
Transformei meu sonho em realidade
E tornei-me composição
Para minha perplexidade.
Elizabeth F. de Oliveira
quarta-feira, 16 de abril de 2008
A Outra Margem do Tempo XXXIX
Os flamboaiãs tecem um sopro de cores,
de partituras vivas a incandescerem
o azul, o incêndio da manhã aberta.
Todo o esquecimento, as ruínas
e os escombros do vivido, o fracasso
de não reter as semeaduras e os ventos,
silenciaram-se, súbitos, ante essa floração
mais viva que o tempo. Os flamboaiãs
ensinam-me a não morrer, a pulsar
mais que a efêmera passagem dos barcos,
dos pássaros em perene exílio. Inscrevo-me
nesse pólen, nessas chamas a inaugurarem
uma luz mais plena que a do sol.
Batizo-me nos galhos onde principiam
os astros e os quatro pontos cardeais.
Os flamboaiãs tecem, em mim, um outro
tempo, instante vivo de todas as florações.
Alexandre Bonafim
www.arquipelagodosilencio.blogspot.com
Foto Fernando Gabeira
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Espera
terça-feira, 25 de março de 2008
Inquietamente
segunda-feira, 10 de março de 2008
Escolha
Apesar do medo
escolho a ousadia.
Ao conforto das algemas, prefiro
a dura liberdade.
Vôo com meu par de asas tortas,
sem o tédio da comprovação.
Opto pela loucura, com um grão
de liberdade:
meu ímpeto explode o ponto,
arqueia a linha, traça contornos
para os romper.
Desculpem, mas devo dizer:
eu
quero o delírio.
Lya Luft
Em 'Pra não dizer adeus'
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Poema Inacabado
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Significação
para Graça Pires
Assombra-me o sentimento
As paisagens semânticas do teu universo.
Perco-me nas curvas metafóricas
Pontilhadas diligentemente
Com a caneta da tua emoção.
Afogo-me nas correntezas
Das tuas palavras tão plenas
De uma significação oculta,
Mas transparente.
Aquieto-me quando finalmente
Consigo fundir-me com teu
Emaranhado poético.
Elizabeth F. de Oliveira
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Pé de Jambo
Chove purpuramente
No meu quintal
Flores em fragmento.
Poesia visual
Só para o meu alento;
Vestígios da estação,
Cobertor de sentimento,
Que se deita sobre o chão,
Cobrindo a poeira do vento.
Por isso, cruzo os dedos,
Para que caia mais flor
E revele todos os segredos
Da poesia púrpura do Criador.
Elizabeth F. de Oliveira
Foto de Fernando Stickel
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Madrugada
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Origami
Dobra que dobra,
redobra.
Põe de pé,
puxa as pontas.
Não fica perfeito,
mas faz de conta;
um pouco torto,
mas ninguém vê.
Não faz mal:
é só um pedaço morto
de folha de jornal.
Ficou de lado,
meio largado
na gaveta.
Ao voltar,
as letras de papel terão voado.
Palavra mal guardada
acaba se tornando borboleta.
Flora Figueiredo
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Poema às Artes Mágicas
Urgentemente
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Fonte
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Papelão
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