Carregas no peito
um cárcere de mágoas,
aprisionadas de desacertos
e desencantos.
O tempo te arde
na pele sulcada
pelas linhas do desalento.
Teus olhos espelham
uma esperança aguilhoada
de incertezas,
sangrando-lhes os reflexos
de um futuro.
Agora vives encolhido
nas rusgas do tempo,
cuja herança maior é
a memória dos ocasos,
a certeza dos outonos
e o olor de muitas saudades
contemplado nas vicissitudes
do afeto.
Celebrar crepúsculos é
teu mais ousado sonho,
porquanto carregas a solidão
fossilizada nos ossos.
Elizabeth F. de Oliveira
Imagem: Autoretrato de Vincent Van Gogh