sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RETRATO

                                                 



Carregas no peito
um cárcere de mágoas,
aprisionadas de desacertos
e desencantos.
O tempo  te arde 

na pele sulcada
pelas linhas do desalento.
Teus olhos espelham
uma esperança aguilhoada
de incertezas,

sangrando-lhes os reflexos
de um futuro.
Agora vives encolhido
nas rusgas do tempo,
cuja herança maior é
a memória dos ocasos,
a certeza dos outonos
e o olor de muitas saudades
contemplado nas vicissitudes

do afeto.
Celebrar crepúsculos é
teu mais ousado sonho,
porquanto carregas a solidão

fossilizada nos ossos.





Elizabeth F. de Oliveira

Imagem: Autoretrato de Vincent Van Gogh

7 comentários:

Nádia Dantas disse...

Vir aqui é mergulhar na poesia.
Lindo poema!

Abraço e bom final de semana, Elizabeth!

O Árabe disse...

Lindo, Elizabeth! E só mesmo quem tem a poesia na alma pode imaginar a dor da solidão fossilizada nos ossos. Boa semana, amiga.

Dilberto L. Rosa disse...

Não sei se por amar tanto o período do Impressionismo na Pintura, achei teus mais belos este "Retrato" e tua "Enseada", minha poetISA querida: nos mesmos tons das pinceladas aparentemente superficiais, cravaste ritmo e imagens tais quais as marcantes obras dos mestres Monet e VanGogh! Meu abraço poético, esperando você de volta para mais poemas nos Morcegos (lá também inspirado em arte: as mulheres do Fellini)!

jamil damous disse...

Belo e doloroso retrato de van Gogh!

jamil damous disse...

Belo e doloroso retrato de van Gogh!

Nilson Barcelli disse...

Brilhante.
Este será o teu melhor poema de sempre. Mas não tenho a certeza porque já não me lembro do que li e há muitos que nem os vi.
Em qualquer caso, qualquer poeta, mesmo de nomeada, gostaria de ter feito este poema.
Os meus aplausos, querida amiga Elizabeth.
A escolha da foto/tela do Van Gogh foi perfeita.
Beijos.

A.S. disse...

... contudo, os sonhos permanecem vem vivos, plenos de audácia, desafiando todas as angústias, todos os medos, todas as hesitações!...


Beijosss...
AL