O violino É meu instrumento predileto, É por ele que dissemino Todo o meu afeto; É com ele que afino As notas da minha existência E já escrevo com veemência Na partitura da vida. Não importa se a clave É de Sol ou de Fa, Sempre vai ter lugar Para o que tiver bom som. Quando estiver incorreto, Eu corrijo o tom Dos bemóis e sustenidos da vida, Que um dia foi bem mais dolorida Por não estar no compasso correto. Ao tocar a primeira canção, Transformei meu sonho em realidade E tornei-me composição Para minha perplexidade.
Os flamboaiãs tecem um sopro de cores, de partituras vivas a incandescerem o azul, o incêndio da manhã aberta. Todo o esquecimento, as ruínas e os escombros do vivido, o fracasso de não reter as semeaduras e os ventos, silenciaram-se, súbitos, ante essa floração mais viva que o tempo. Os flamboaiãs ensinam-me a não morrer, a pulsar mais que a efêmera passagem dos barcos, dos pássaros em perene exílio. Inscrevo-me nesse pólen, nessas chamas a inaugurarem uma luz mais plena que a do sol. Batizo-me nos galhos onde principiam os astros e os quatro pontos cardeais. Os flamboaiãs tecem, em mim, um outro tempo, instante vivo de todas as florações.
Alexandre Bonafim www.arquipelagodosilencio.blogspot.com Foto Fernando Gabeira
As tuas palavras Cruzaram um oceano de espera E declamaram em mim Versos do teu entendimento, Da tua poesia de viver; ecos sentidos nos quatro cantos da minha alma.