À luz da penumbra silenciosa da noite, tento repousar os anseios que me trafegam o sangue de ausências. Nesse percurso gravado por solitárias pegadas, ouço passos uníssonos aos meus. Eis que surge um cavaleiro andante, que com sua pena reescreve-me as páginas já viradas de solidão, contornando de palavras e preenchendo com metáforas os espaços dos devaneios habitados pelo branco. Nesse instante, sua mão entrelaça de vontade a minha.
Ainda me resta Um pouco de poesia Nas mãos tatuadas de desejo. A caneta que resvala Por entre os dedos Não sacia a ânsia Do toque das linhas do teu rosto Ou do contorno das tuas mãos. A necessidade que me consome As mãos cria em mim Um vazio eterno de solidão. A poesia que ainda me resta Inflama-me as palmas, Ansiando-me resgatar da impossibilidade Do preenchimento do desejo.
Peregrino no deserto da saudade Em busca de um oásis Que me flagre os sentidos, Que me resgate do padecimento Da espera. Habito a aridez do sentimento, À procura de uma miragem Que me mate a sede dos olhos E da boca. Esse deserto ilusório e real É o meu saara de sal Encoberto por areias de saudade. Sou peregrina da emoção, Beduína da espera do oásis Dos teus olhos.
O fascínio dos teus olhos Retesa-me as pálpebras, congeladas na excitação do sentimento. Dispo-me o olhar , para que a nudez embriague de delírio o instante em que se tocam as retinas, preenchendo a necessidade mútua do toque de afeto das mãos; enlevo primeiro da reciprocidade do desejo velado na penumbra das pupilas.