
À luz da penumbra
silenciosa da noite,
tento repousar os anseios
que me trafegam
o sangue de ausências.
Nesse percurso gravado
por solitárias pegadas,
ouço passos
uníssonos aos meus.
Eis que surge
um cavaleiro andante,
que com sua pena
reescreve-me as páginas
já viradas de solidão,
contornando de palavras
e preenchendo com metáforas
os espaços dos devaneios
habitados pelo branco.
Nesse instante, sua mão
entrelaça de vontade a minha.
Elizabeth F de Oliveira
Foto João Vasco

Ainda me resta
Um pouco de poesia
Nas mãos tatuadas de desejo.
A caneta que resvala
Por entre os dedos
Não sacia a ânsia
Do toque das linhas do teu rosto
Ou do contorno das tuas mãos.
A necessidade que me consome
As mãos cria em mim
Um vazio eterno de solidão.
A poesia que ainda me resta
Inflama-me as palmas,
Ansiando-me resgatar da impossibilidade
Do preenchimento do desejo.
Elizabeth F de Oliveira
Foto Miguel P. Dias

Peregrino no deserto da saudade
Em busca de um oásis
Que me flagre os sentidos,
Que me resgate do padecimento
Da espera.
Habito a aridez do sentimento,
À procura de uma miragem
Que me mate a sede dos olhos
E da boca.
Esse deserto ilusório e real
É o meu saara de sal
Encoberto por areias de saudade.
Sou peregrina da emoção,
Beduína da espera do oásis
Dos teus olhos.
Elizabeth F de Oliveira
Foto : Carlos e Maria
O fascínio dos teus olhos
Retesa-me as pálpebras,
congeladas na excitação
do sentimento.
Dispo-me o olhar ,
para que a nudez embriague
de delírio
o instante em que se tocam
as retinas, preenchendo
a necessidade mútua
do toque de afeto das mãos;
enlevo primeiro da reciprocidade
do desejo velado
na penumbra das pupilas.
Elizabeth F de Oliveira
Foto: Nuri
A chuva é a única chama
que caminha contra o vento.
Refaço seu lastro
com a insônia dos sapatos.
Enlouqueço de ternura,
indeciso entre o furor e o fulgor.
Desperto amarrado em alguma estrela,
servindo de referência
para o alinhamento das esferas.
Fabrício Carpinejar
Em 'Biografia de uma Árvore'.
Foto Mario Ferreira